Com a foto do neto, quando ele ainda era criança, a avó e mãe Maria Anunciata Almeida, 72, continua inconformada com a morte do jovem de 18 anos, ocorrida no ano passado, assassinado a tiros. O motivo do crime, segundo conta, foi a disputa de território do tráfico de drogas no bairro Bom Jardim, em Mossoró.
O rapaz saiu de casa à noite e foi surpreendido pelos matadores, que dispararam várias vezes contra ele, matando-o no local. O crime foi presenciado por diversas pessoas que nada puderam fazer para impedir a execução. "A dor de ver meu neto morto só não é maior do que a que sinto quando olho para trás e vejo que tudo poderia ter sido diferente se ele não tivesse se envolvido com as drogas", lamenta.
A avó conta que aos 18 anos o neto já tinha um longo histórico dentro do submundo do tráfico, tendo ele iniciado a vida como "avião" (quem entrega a droga ao usuário), sendo arregimentado pelos "chefes" (traficantes) e percorrido todos os estágios para ganhar destaque entre os mais fortes. "O meu menino fez um grande pecado, ficou devendo aos traficantes, por isso o mataram", contou.
A história de traficantes e "aviões" mortos não comove apenas os idosos. Ex-mulheres, que acompanharam seus parceiros, desde a fase de viciados a bandidos, também relatam o pesar pelas perdas dos maridos, muito deles ainda menores.
É o caso de uma adolescente de 17 anos, residente no bairro Belo Horizonte, onde o companheiro dela foi assassinado com três tiros quando saía de casa, em maio de 2009. "Foi uma execução a sangue frio. Ele levou tiros pelas costas e o assassino pouco tempo depois morreu pelo mesmo motivo: não era mais útil ao tráfico", contou.
Ela lembra o tempo em que o jovem era apenas um consumidor de crack. Depois, passou a praticar pequenos furtos dentro de casa, para alimentar o vício. O passo seguinte foi assaltar mercadinhos de cereais do bairro e depois, a gota d'água, contrair dívida com os traficantes.
"Ele estava em uma situação irreparável, além de ter partido por um caminho sem volta, que é o do crack, passou a assaltar. Porém a pior coisa que ele fez foi ficar devendo droga a traficante e isso eles não perdoam, matam mesmo", destacou a garota, com lágrimas nos olhos.
O que há em comum entre as mortes do neto de dona Maria Anunciata e o companheiro da menor, é que os dois foram assassinados pelo tráfico, mesmo em locais diferentes da cidade, mas a reação dos chefes das bocas de fumo com os "infiéis", é a mesma: a morte, conhecida como acertos de contas.
Por esse caminho tosco e sem volta morreram outros tantos adolescentes, onde até hoje as famílias, principalmente as mães, choram a dor de ter perdido os filhos para o tráfico. "Meu filho era um menino alegre, obediente, estudioso até que um dia teve o encontro com a maldita droga. Ele passou a ter hábitos diferentes, abandonou a escola, mudou o ciclo de amizades, tendo sido recrutado por um traficante, que acabou matando-o por saber demais", desabafou a doméstica "Branca", como quis ser identificada.
Fonte: DNonline
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